O impacto dos aplicativos e redes sociais na saúde e nos dispositivos médicos
A mHealth, ou saúde móvel, consiste no uso de smartphones como ferramentas e canais úteis para a medicina por meio da utilização de aplicativos que permitem monitorar o condicionamento físico, o bem-estar e algumas condições de saúde dos pacientes. Os aplicativos vêm impulsionando a inovação na saúde, gerando muitos benefícios para o setor que afetam diretamente o paciente e promovem um melhor atendimento por parte dos profissionais de saúde, além de permitir a aplicação de tratamentos e o acompanhamento personalizado dos pacientes.
A Organização Mundial da Saúde já reconheceu o uso de dispositivos móveis na medicina e nas práticas de saúde. O uso de aplicativos tem ganhado cada vez mais destaque nas redes sociais, que hoje já se tornaram espaços de divulgação e discussão de condições médicas fora do consultório, longe das clínicas dos médicos e profissionais de saúde certificados.
Os usuários das redes sociais, sobretudo os chamados health coaches e influenciadores de saúde, usam essas plataformas para compartilhar suas experiências e descobertas e educar outras pessoas com condições semelhantes.
As redes sociais permitem que as pessoas relatem suas próprias experiências pessoais, façam perguntas e recebam comentários diretos sobre suas dúvidas em relação a determinadas condições médicas e possíveis tratamentos.
Se bem compreendidos, os muitos usos dos aplicativos de redes sociais na área da saúde podem oferecer acesso a recursos educativos para profissionais de saúde e pacientes, ao mesmo tempo que viabilizam a criação de comunidades online para a formação e atualização contínua de médicos e permitem interconsultas. De acordo com uma pesquisa feita com mais de 4 mil médicos pelo site de rede social Quantia MD, mais de 81% dos médicos utilizam algum tipo de rede social para atividades pessoais e 65% utilizam essas plataformas para fins profissionais.
Como observa o Dr. Alejandro Mauro, especialista consultado especialmente pela GHI que atua como chefe de transformação digital clínica da Clínica Alemana em Santiago do Chile: “As redes sociais nos dão ferramentas para conectar pessoas e compartilhar informações e conhecimentos, mas também nos expõem à manipulação. Por esse motivo, é essencial desenvolver uma consciência crítica para que as informações que consumimos sejam reais e não nos prejudiquem. Devemos ser cuidadosos com as informações que compartilhamos e consumimos e entender que muitas vezes a verdade está nas entrelinhas”.
Mauro aponta ainda que, desde o surgimento das redes sociais, o setor médico viu nelas uma grande oportunidade para difundir mensagens de saúde para um público mais amplo e diversificado, mas, ao mesmo tempo, também uma ameaça. A pandemia contribuiu significativamente para o aumento do uso das redes sociais no mundo inteiro, com um crescimento anual de 10%. Hoje, 60% da população mundial está conectada a essas plataformas.
Benefícios e precauções ao usar as redes sociais na saúde
Alguns dos benefícios apontados pelo Dr. Mauro são a possibilidade de atingir um grande número de pessoas com ferramentas eletrônicas. “Os benefícios das redes sociais são extraordinários e incontáveis, mas me parece prudente discutir os aspectos negativos que se intensificaram durante a pandemia”, afirma o especialista. Alguns desses aspectos são:
- Essas plataformas são concebidas para atrair a atenção dos usuários e mantê-los “consumindo” os conteúdos oferecidos. Para isso, são utilizadas diferentes estratégias de persuasão, alimentadas por algoritmos treinados para promover ideias que, em alguns casos, podem ter efeitos prejudiciais nas pessoas.
- Um dos riscos do uso de aplicativos e redes sociais são as fake news. É cada vez mais evidente que, quando mensagens são repetidamente apresentadas de diferentes formas e apoiadas por diferentes atores, podemos ser levados a acreditar em algo que não é verdade. Mesmo antes da pandemia já se começava a perceber os efeitos negativos das redes sociais em termos da disseminação de fake news, entendidas como toda e qualquer ideia enganosa que é apresentada de forma sutil até conseguir fazer as pessoas mudarem de ideia.
- Essa mistura explosiva entre redes sociais e notícias falsas é difícil de controlar e suas repercussões na saúde pública são um grande problema. O ser humano tende a prestar atenção em mensagens, imagens ou ideias que despertam emoções intensas e essa “fraqueza” da nossa mente é explorada por aqueles que querem vender uma ideia. São muitas as ideias exploradas nas redes sociais que podem ser prejudiciais à nossa saúde.
- São promovidos medicamentos prescritos para todo tipo de uso estético (mupirocina, eritromicina, dercutane) e outras terapias alternativas sem qualquer comprovação científica, como homeopatia, florais de Bach e Reiki, que funcionam apenas como placebo para aliviar qualquer mal-estar ou indisposição. Existem também as técnicas de “biodecodificação” para “sanar” qualquer doença e curar outras, além da canalização de mensagens de “mestres ancestrais” que oferecem orientações para aliviar enfermidades.
- Um exemplo claro do impacto das redes sociais na saúde da população é o aumento do consumo de teorias obscurantistas entre os jovens. Astrologia, tarô, registros akáshicos e ideias de civilizações antigas como os Maias, Astecas e Egípcios são promovidos por meio dessas plataformas como formas de alcançar, entre outras coisas, uma saúde melhor.
- E, além do golpe econômico, que está sempre presente, o verdadeiro problema está na validação da mentira e na expectativa de resultados melhores do que o efeito placebo (que é a única coisa que esses métodos alternativos podem oferecer). Isso muitas vezes faz com que os pacientes cheguem tardiamente ao sistema de saúde, atrasando a aplicação de tratamentos médicos reais e eficazes. Essa situação é observada em todas as esferas sociais. É sempre bom recordar o caso de Steve Jobs, que, seguindo as recomendações de um mestre espiritual (que hoje em dia poderia facilmente se tornar conhecido pelo Instagram ou Facebook), retardou a aplicação de um tratamento médico para um câncer do pâncreas e, no fim, recorreu a um tratamento eficaz para um tumor já muito avançado que lhe custou a vida.
Como superar o desafio
Há várias soluções possíveis para o desafio associado ao uso de aplicativos para a saúde móvel e das redes sociais para a comunicação com pacientes, e todas exigem a contribuição dos atores do ecossistema de saúde. Para garantir a segurança do paciente, o uso correto dos dados, o exercício da medicina e a cura das doenças, o sistema de saúde inteiro precisa ser embasado em dados confiáveis e fazer sua parte para educar uma população que corre o risco de consumir fake news ou usar aplicativos que não são submetidos ao mesmo monitoramento e regulamentação dos dispositivos médicos. Fornecedores e fabricantes de dispositivos médicos e provedores de tratamentos, bem como diretores hospitalares e profissionais de saúde, precisam se valer de informações baseadas em dados e inteligência.
Próximos passos
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