Telemedicina: um novo recurso tecnológico para o atendimento médico
Entrevista com a Dra. Cecilia Gómez
Coordenadora do Escritório de Comunicação a Distância
Centro Provincial de Saúde Infantil Eva Perón
No setor da saúde, a telemedicina vem ganhando cada vez mais importância em decorrência da pandemia de Covid-19. A GHI conversou com a Dra. Cecilia Gomez, coordenadora do Escritório de Comunicação a Distância do Centro Provincial de Saúde Infantil Eva Perón (CePSI), na província de Santiago del Estero, Argentina, sobre as oportunidades e benefícios oferecidos pela telemedicina.
A pandemia aumentou o protagonismo da telemedicina, que já se tornou uma prática cotidiana para grande parte dos pacientes. Na sua visão, quais são as vantagens e desvantagens de se trabalhar com essa tecnologia?
A principal vantagem oferecida pela telemedicina é a acessibilidade. O que determina o tipo de atenção prestada e a complexidade do atendimento são os níveis dos hospitais. Santiago del Estero é uma enorme província com poucos recursos. Nosso hospital é de segundo e terceiro nível e alguns de nossos pacientes precisam viajar seis ou sete horas para ir a uma consulta, o que gera grandes perdas econômicas e de tempo.
Em 2020, todas as consultas on-line foram realizadas em hospitais próximos ou em postos de saúde. Já em 2021, 75% das nossas consultas foram realizadas à distância, na própria casa dos pacientes. O que considerávamos um ponto fraco acabou se revelando um grande benefício.
Acho que a principal desvantagem da telemedicina é a resistência à implementação. Embora nem todos os hospitais tenham os mesmos recursos tecnológicos ou econômicos, os recursos humanos são essenciais para qualquer tipo de crescimento. Vale ressaltar também que atualmente nem todas as patologias podem ser atendidas por telemedicina, mas é questão de tempo até que os avanços tecnológicos nos permitam oferecer um serviço de teleassistência integral.
Acredito particularmente que a telemedicina oferece inúmeras vantagens, sobretudo nesses últimos anos em que a Covid-19 assumiu papel protagonista. Trata-se de uma ferramenta completa e com grande potencial para o futuro que, além de ter como foco o atendimento remoto ao paciente, também contribui muito para descentralizar e otimizar os serviços e a transmissão de informações e transferência de conhecimentos por meio da tele-educação.
Vimos como a qualidade do atendimento melhorou, com os pacientes recebendo acompanhamento e apoio imediatos independente de sua localização. Isso mudou completamente a relação entre profissionais de saúde e pacientes, promovendo um maior envolvimento de ambas as partes.
Mudanças repentinas são difíceis de assimilar e, devido à pandemia e às inovações tecnológicas, vivemos uma verdadeira transformação global em apenas alguns anos. Como surgiu a rede em seu hospital e como a equipe equilibrou a lacuna tecnológica?
Existe uma rede em nível provincial empenhada em promover a igualdade de oportunidades para que todos os pacientes tenham acesso aos cuidados de que necessitam. Nesses 15 anos, a tecnologia contribuiu muito para o trabalho que realizamos, permitindo que substituíssemos as consultas telefônicas e por fax por consultas por e-mail. Depois passamos a integrar a equipe de conferências, que nos permitiu realizar a primeira consulta por videoconferência em 2016.
Em 2018, foi criada uma plataforma de telessaúde com alcance nacional, uma via formal de obter segundas opiniões em que o paciente pode receber um parecer médico tanto através de consultas presenciais como virtuais.
A chegada da pandemia impulsionou o uso do consultório on-line ou virtual, levando a um crescimento exponencial no número de consultas. Em 2019, realizamos um total de três consultas, ao passo que em 2020 foram realizadas cerca de 350 por meio do Webex e, em 2021, um total de 1.220 consultas.
No CePSI, atendemos todas as subespecialidades pediátricas e enxergamos a pandemia como uma grande oportunidade de promover mudanças futuras. Muitos associam a telemedicina à despersonalização, e particularmente penso justamente o contrário. Tenho feito consultas virtuais e, ao conhecer os pacientes pessoalmente, ambos temos uma sensação de proximidade. Essa ligação e os recursos humanos são essenciais para reduzir o fosso tecnológico.
Nossa visão sobre a medicina mudou completamente nos últimos três anos, com a tecnologia e a saúde se unindo para promover uma atenção eficaz. Na sua opinião, quais são as oportunidades para o futuro da telemedicina?
Acredito que ainda temos um longo caminho a percorrer na telemedicina, o que nos obriga a repensar a medicina com duas modalidades de atenção: a presencial e a virtual. E dentro da consulta virtual, começaremos a identificar quais patologias permitem esse acompanhamento.
A telemedicina veio para ficar. Esse recurso é e será uma peça-chave nos sistemas de saúde mundiais nos próximos anos. A digitalização da assistência médica trouxe uma mudança de paradigma e a telemedicina do futuro será proativa, hiperpersonalizada e baseada em dados.
A pandemia nos deu a oportunidade de aprender e crescer rapidamente, otimizando os recursos com grande eficiência. Em nosso caso particular, em um hospital público de Santiago del Estero, a chegada da telemedicina foi uma benção que permitiu que todos os nossos pacientes recebessem atendimento médico gratuito.
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O CePSI Eva Perón é um hospital público em regime autárquico descentralizado que conta com equipamentos de alta tecnologia e médicos, técnicos e enfermeiros capacitados para atender doenças pediátricas complexas. O objetivo da instituição é promover o atendimento integral da criança em seu aspecto biológico, psicológico e social, prestando cuidados centrados no paciente e pautados nos princípios da equidade e acessibilidade.