A pandemia abriu as portas para novos aprendizados

Maurício Ortiz

Maurício Ortiz
Presidente
Boston Scientific América Latina

Qual foi o impacto da pandemia no setor da saúde?

A pandemia afetou significativamente todas as indústrias, gerando grandes mudanças estruturais e muita mobilidade, principalmente no nosso setor, onde o primeiro nível de atenção evidenciou a necessidade da implementação de sistemas mais robustos para promover e proteger a saúde de todos os pacientes.

Pessoalmente, acredito que o principal problema enfrentado na América Latina é o acesso, tanto a dispositivos médicos quanto à saúde em geral. Esse é um grande inconveniente que está presente há muito tempo e surgiu antes da pandemia. Nos últimos dois ou três anos, deixamos de nos concentrar no acesso e a Covid-19 só mostrou que os procedimentos que temos na América Latina não são comparáveis aos do resto do mundo em nível e qualidade.

Essa constatação é corroborada por dados concretos: em seus relatórios para 2021, o Banco Mundial mostra que 14,5% da população da América Latina devem destinar 10% do orçamento familiar para a saúde.

Vivemos tempos de mudanças constantes e a Covid-19 acelerou essas transformações. Quais foram os aprendizados da indústria durante a pandemia?

Acho que o maior aprendizado que tivemos como indústria e como humanidade foi a capacidade de colaboração humana. Dentro do nosso setor, por exemplo, liberamos nossos projetos para que todos pudessem construir um respirador mecânico em casa, vacinas foram levadas de um lugar para outro do mundo, a telemedicina passou a fazer parte do nosso cotidiano, colaboramos uns com os outros para seguir adiante e nunca antes havíamos tido a oportunidade de fazê-lo.

Pode parecer uma afirmação forte, mas pela primeira vez o paciente foi o centro das atenções, independentemente de sua condição, rico ou pobre, negro ou branco. Apesar das diferenças, todos concordávamos com uma coisa: “o foco é no paciente”.

Nós que ocupamos cargos de decisão temos o dever de pensar nas necessidades reais do paciente. É por isso que devemos cultivar uma mentalidade expansiva e parar de olhar para o nosso próprio umbigo.

As empresas do setor de saúde buscam o próprio benefício em detrimento do bem comum. Quando um hospital quer comprar um dispositivo médico, o que realmente importa é o preço e o mix de produtos que podem ser oferecidos, já que o objetivo dos hospitais é negociar um pacote de cuidados para o paciente que gere a maior rentabilidade possível. As empresas de saúde estão interessadas em proteger seus próprios orçamentos e obter a maior lucratividade possível.

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Contudo, a pandemia levou muita gente a se unir para salvar outras pessoas e acho que nós, como instituição, devemos dar esse exemplo [ao] repensar completamente nossa estrutura e encontrar a solução para incorporar um maior número de pacientes ao sistema sem pensar tanto nas margens.

Agora que já superamos o foco de contágios, quais são os próximos passos do setor?

Hoje, acredito que a resposta para os problemas enfrentados no setor está na diversidade de grupos. É na diferença que vamos buscar os melhores resultados, deixar de olhar para dentro e sair de nossas estruturas para aprender novas formas de trabalhar, tornando-nos digitais e até híbridos.

A pandemia nos ensinou muito e é nosso dever evoluir. O tratamento de pacientes fora dos hospitais (que chamamos de “out of office”) é algo que veio para ficar principalmente com a chegada da Covid-19, mas que abriu novas portas para o futuro do setor da saúde, gerando maior fluidez de pacientes e, consequentemente, a melhoria do acesso e do atendimento aos pacientes.

Na minha experiência, hospitais que têm uma gerência com uma mentalidade moderna e digitalizada obtêm melhores resultados do que os hospitais tradicionais, e é por isso que insisto que a chave da mudança está em quem tem o poder de decisão. Devemos apenas nos cercar de quem pode nos acompanhar para implementar essas mudanças.

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A Boston Scientific é uma das multinacionais pioneiras no desenvolvimento, fabricação e comercialização de dispositivos médicos em todo o mundo. A empresa tem um terço de suas operações na América Latina e é uma das que mais investe em P&D.

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