Medicina de precisão: o futuro já chegou?

Por Daniela Chueke Perles

A medicina de precisão é o futuro da saúde. A primeira mudança foi o modo como as pesquisas são realizadas; a segunda é a forma como os tratamentos médicos serão oferecidos em alguns anos. Os pesquisadores já utilizam dados de sequenciamento genômico para aprender mais sobre por que as pessoas adoecem ou permanecem saudáveis e o que as torna únicas e irrepetíveis. É por isso que a medicina de precisão também é chamada de “medicina personalizada”, embora o termo seja um conceito que remonta a Hipócrates. O problema, porém, é que a superespecialização nas áreas médicas acabou resultando em um modelo de saúde que trata patologias, não pessoas.

Em 2015, o então presidente norte-americano Barack Obama anunciou um ambicioso programa de pesquisa em medicina de precisão que previa um investimento de 1,5 bilhão de dólares para a criação de uma base de dados de sequenciamento genômico de um milhão de norte-americanos. O plano, denominado “All of Us” e executado pelo National Institute of Health, começou a criar em 2018 uma das maiores e mais diversas bases de dados de saúde do gênero.

Desde então, a medicina de precisão também começou a ganhar destaque na América Latina graças ao envolvimento de diferentes atores: empresas farmacêuticas, pesquisadores, pacientes, legisladores, governo e médicos que veem nesse novo paradigma uma oportunidade para oferecer a seus pacientes melhores tratamentos e a cura de que necessitam.

Embora atualmente não exista um plano tão ambicioso como o que vem sendo implementado nos Estados Unidos, os governos começam a apostar nessa modalidade de medicina – considerada a medicina do futuro.

Os dados são o cerne da medicina de precisão

Um exemplo do risco envolvido na coleta de dados tão sensíveis como os do genoma humano é o recente ataque sofrido pela empresa 23andMe que resultou no roubo de dados genéticos de mais de um milhão de pessoas. No dia 6 de outubro, a empresa revelou que os dados de um milhão de clientes, incluindo informações pessoais e vínculos genéticos com seus antepassados, estavam sendo vendidos na deep web.

No entanto, a promessa da medicina de precisão é muito mais animadora do que os desafios associados à segurança dos dados. Isso ficou explícito em um painel sobre o tema realizado em Buenos Aires, convocado pela Câmara Americana de Comércio (AmCham) por ocasião do Fórum de Saúde.

No painel sobre medicina de precisão, Leticia Murray​, CEO da AstraZeneca para o Cone Sul, enfatizou que “o objetivo da medicina de precisão é encontrar o medicamento certo, na hora certa e para o paciente certo”. Murray também mencionou que a empresa está centrada nessa abordagem e previu que, no futuro, os medicamentos que não são adaptados às necessidades específicas de cada paciente (ou “medicamentos de tamanho único”) ficarão em segundo plano.

Como os aspectos regulatórios da saúde são essenciais para permitir o acesso dos pacientes aos tratamentos, a senadora Guadalupe Tagliaferri falou da importância de legislar para favorecer a pesquisa, as parcerias público-privadas e o acesso dos pacientes aos avanços tecnológicos no campo da saúde.

Representando o interesse dos pacientes oncológicos, María de San Martín, diretora da Fundação Donde Quiero Estar, ressaltou a importância de oferecer aos pacientes os tratamentos de que necessitam e afirmou que, para evitar os altos cursos do sistema de saúde relacionados a tratamentos para patologias em graus muito avançados, é preciso trabalhar fortemente na prevenção.

Leticia Murray assinalou que a empresa vem concentrando seus esforços de pesquisa na inovação da perspectiva da medicina de precisão. “É assim que pensamos e inovamos o portfólio da AstraZeneca: 80% da carteira de produtos no pipeline da AstraZeneca vêm justamente com esse enfoque, pois acreditamos que essa será a evolução da atenção integral ao paciente, com foco em uma medicina muito mais personalizada para tornar os sistemas de saúde muito mais sustentáveis”, afirmou a executiva. E prosseguiu: “Se seguirmos produzindo medicamentos ‘de tamanho único’, certamente alguns serão muito eficazes para um determinado tipo de paciente, mas outros não; com a abordagem da medicina de precisão, garantiremos que o recurso se destine ao paciente que se beneficiará daquele tratamento, e o ideal é encontrá-lo na hora certa e é para isso que serve o diagnóstico”.

Medicina de precisão e medicina personalizada são a mesma coisa?

Murray respondeu que sim, pois é nesse sentido que estamos avançando. “Começa em áreas terapêuticas altamente especializadas, como a oncologia, onde são observadas as moléculas-alvo, ou seja, aquelas que se dirigem a um determinado tipo de mutação genética que o paciente possui. Também há muitas inovações em estudo e análise, em especial a terapia celular ou medicamentos que já são individualizados, onde já começamos a observar medicações que seguem essa abordagem. Os desdobramentos científicos que estão por vir são muito interessantes”, concluiu.

Junto com a Roche e a Novartis, a AstraZeneca assinou um acordo de colaboração para promover a medicina de precisão na América Latina.

Anabella Fassiano, PHC Ecosystem Partner da Roche, falou à Global Health Intelligence sobre o que o laboratório está trabalhando atualmente. “A união do conhecimento médico, da digitalização e da ciência da análise de dados está revolucionando a medicina.  Estamos reunindo conhecimentos únicos da biologia humana com novas formas de analisar os dados”.

A médica informou ainda que muitas das iniciativas se destinam ao enfrentamento do câncer. “Na oncologia, o conhecimento molecular permite personalizar o tratamento de acordo com o perfil genômico específico do tumor do paciente. Com mais genes acionáveis sendo identificados e o aumento das opções de tratamento, os tratamentos oncológicos vêm se tornando cada vez mais complexos. Em 2017, havia mais de 700 moléculas em desenvolvimento avançado, 90% das quais eram terapias direcionadas. Dessa forma, para fazer frente à complexidade crescente e compreender o potencial da medicina de precisão, é necessário adotar uma estratégia para o diagnóstico clínico e a tomada de decisões que evolua constantemente”, assinalou Fassiano.

Qual tem sido a evolução da medicina de precisão na América Latina?

No caso específico do câncer, o sequenciamento genômico pode ser muito útil para que os pacientes se beneficiem de um tratamento baseado em terapias direcionadas ao perfil molecular de seu tumor. O sequenciamento ajuda a melhorar as expectativas do paciente ao ampliar as possibilidades de tratamento, detectando alterações clinicamente relevantes que poderiam não ser detectadas por outras técnicas e relacionando-as com possíveis opções terapêuticas. Na busca de aproximar a medicina personalizada dos pacientes, o governo argentino aprovou recentemente uma nova terapia que age contra diversos tipos de câncer. Trata-se de um medicamento indicado de acordo com as alterações genéticas do tumor, independentemente de sua localização no corpo.

Os sistemas de saúde latino-americanos enfrentam uma série de desafios, como o envelhecimento populacional, o aumento da prevalência de doenças crónicas, problemas de infraestrutura e escassez de recursos, que foram agravados pela pandemia da Covid-19. Apoiada pela Roche, a FutureProofing Healthcare é uma iniciativa internacional desenvolvida por importantes especialistas independentes com o intuito de promover conversas sobre as intervenções necessárias para preparar os sistemas de saúde para o futuro. Em 2021, foram publicados os resultados do Índice de Medicina Personalizada da América Latina, o primeiro recurso desse tipo a oferecer um panorama único do estado atual de dez sistemas de saúde na região. Os países que participaram do Índice de Medicina Personalizada da América Latina foram Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Panamá, Peru e Uruguai.

Esses dez países latino-americanos foram avaliados e classificados de acordo com diferentes aspectos relacionados à medicina personalizada, como tecnologias personalizadas, serviços de saúde, informações de saúde e contexto das políticas.

Fassiano observa que ainda há um longo caminho a percorrer para que a região incorpore a medicina de precisão. “A implementação de estratégias baseadas em dados, juntamente com melhorias nas infraestruturas e políticas de saúde, são aspectos fundamentais para maximizar o potencial da medicina de precisão na região. A medicina personalizada se apresenta como uma ferramenta para aumentar a eficiência do uso dos recursos existentes e, por conseguinte, melhorar a eficácia da assistência médica, apesar dos desafios ainda não resolvidos em outros aspectos da realidade latino-americana”, conclui.

O que é a medicina de precisão

A medicina de precisão é a promessa de recolocar o paciente no centro das atenções.

Tecnologias: A medicina de precisão utiliza novas tecnologias, como sequenciamento de DNA (também chamado de sequenciamento genômico), bioinformática e medicina personalizada.

Aplicações: O tratamento do câncer e das doenças genéticas é um dos campos da medicina em que a medicina de precisão mais tem avançado.

Benefícios: O principal benefício da medicina de precisão é a melhoria na eficácia do tratamento, por se destinar a um paciente específico de acordo com sua situação específica.

Desafios: Alguns dos desafios da medicina de precisão, que exige dados muito sensíveis, como o sequenciamento genômico dos pacientes, estão relacionados com questões éticas e de privacidade. Nas mãos erradas, esses dados podem ser usados para causar danos em vez de benefícios.

Quem pode se beneficiar da medicina de precisão

Para garantir que os pacientes oncológicos se beneficiem dos mais recentes avanços no tratamento, é necessário adotar uma estratégia para o diagnóstico clínico e a tomada de decisões que evolua constantemente e:

✓ Identifique alterações genômicas e biomarcadores de resposta à imunoterapia clinicamente relevantes

✓ Apoie a tomada de decisões clínicas

✓ Ajude a personalizar planos de tratamento para pacientes

A avaliação do perfil genômico completo é importante para garantir que os pacientes possam se beneficiar das últimas inovações de tratamento.

Próximos passos

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