Panorama do mercado latino-americano para fabricantes do setor de saúde em 2023
Panorama do mercado latino-americano de equipamentos médicos em 2023
Cada ano que se passou desde o início da pandemia de Covid-19 foi marcado por um evento importante que impactou significativamente nossas vidas no Ocidente. Por exemplo:
- 2020 foi o ano em que começaram os confinamentos e restrições relacionados à pandemia e surgiram as incertezas.
- 2021 foi marcado por campanhas globais de vacinação, pela corrida para garantir a aplicação de pelo menos duas doses da vacina e pela adaptação ao trabalho em regime home office.
- 2022 foi o ano em que o mundo começou a curtir novamente as férias, viagens e confraternizações, enquanto as empresas lutaram para fazer seus funcionários retornarem ao trabalho presencial.
Este ano trará novos desafios e oportunidades. Embora a América Latina seja afetada por algumas forças globais, as características singulares da região oferecem muitas oportunidades. A Global Health Intelligence está estudando essas forças e o que elas significam para os fabricantes do setor de saúde.
Enquadramento contextualAspectos econômicos e sociais
Sistema de saúde
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A ascensão da China
Os Estados Unidos e a Europa sempre influenciaram a oferta de tecnologias de ciências da vida na América Latina, seja no setor farmacêutico, de materiais de consumo ou de dispositivos e equipamentos médicos. A pandemia de Covid-19 intensificou, de forma nunca antes vista, a demanda por produtos médicos, afetando os padrões de consumo e obrigando os clientes a recorrer a fornecedores e rotas de abastecimento alternativos. Conhecidos por sua agilidade, os fornecedores asiáticos (sobretudo os chineses) aproveitaram essa oportunidade para aumentar sua presença na região. E embora 2022 tenha sido um ano marcado por algum grau de “retorno à normalidade”, a região está mais aberta à ideia de contratar fornecedores asiáticos agora do que antes da pandemia, o que abalará a estabilidade dos consagrados fabricantes americanos e europeus nos próximos anos.
As tensões entre os Estados Unidos e a China provavelmente continuarão em 2023 e nos anos seguintes. Com a China desempenhando um papel essencial no comércio na região, podemos esperar uma ruptura nas relações estabelecidas. O país se tornará um parceiro comercial cada vez mais relevante (principalmente com o fim da sua política de “Covid Zero”) em relação a todos os outros blocos comerciais, conquistando clientes em toda a região da América Latina. Os Estados Unidos e a Europa, por sua vez, buscarão estratégias para manter o apoio de seus aliados na região. Com o aumento do fluxo de produtos de saúde mais acessíveis, as empresas locais se sentirão mais pressionadas a intensificar e melhorar suas atividades de P&D, processos fabris e competitividade, fatores críticos para o estabelecimento e consolidação de centros de especialização médica – uma necessidade evidenciada pela pandemia.
IMPLICAÇÕES PARA FABRICANTES DE PRODUTOS DE CIÊNCIAS DA VIDA
1. Qualquer empresa que entra em um novo mercado (principalmente se for asiática) precisa dedicar um tempo para compreender os mercados e dinâmicas locais e captar as nuances das vendas e da distribuição dos produtos de saúde de uma região na qual nunca esteve presente.
2. Fabricantes consolidados (principalmente os norte-americanos e europeus) precisam monitorar de perto os mercados em que atuam para reagir à entrada de novos concorrentes. É muito provável que ocorra uma mudança de paradigma que resultará na redefinição dos mercados e concorrentes. A inovação e contratos de longo prazo serão elementos fundamentais para manter a base de clientes. As relações históricas se tornarão um ativo fundamental, seja para criar e implementar programas de garantia de qualidade (com associações, câmaras, grupos médicos, grupos de pacientes, etc.) ou para reforçar estruturas regulatórias (com órgãos regulatórios, autoridades aduaneiras, autoridades fiscais, instituições públicas, etc.).
3. Os canais de distribuição serão reavaliados com o objetivo de adaptar a estratégia de canais à segmentação do mercado e aumentar ainda mais a eficiência com base nas necessidades dos clientes. Podemos esperar o surgimento de estratégias de canal disruptivas que provavelmente provocarão tensões entre fabricantes e distribuidores.
O impacto da guerra na Ucrânia
O hemisfério norte se prepara para atravessar o seu primeiro inverno completo em que precisa lidar simultaneamente com os efeitos da guerra em curso na Ucrânia. Apesar da diminuição das tensões iniciais de um conflito global e dos temores de uma escalada nuclear (ainda que essas possibilidades não possam ser totalmente descartadas), o mundo vem sentindo o impacto da “guerra longa” e do consequente aumento dos custos.
A elevação dos custos de energia na Europa afeta as finanças das populações locais. A redução da produção de alimentos na Ucrânia provoca um aumento na demanda de grãos e outros gêneros de primeira necessidade nos mercados globais, contribuindo para elevar os custos dos alimentos no mundo inteiro.
Alimentos e energia representam mais de 40% da cesta de consumo na maioria dos países de renda média da América Latina, principalmente Brasil, México e Peru. O aumento dos custos de energia e alimentos é o fator que mais pressionará a inflação em toda a região, comprometendo a renda disponível das famílias e contribuindo para aumentar ainda mais as desigualdades. Os grupos mais pobres e vulneráveis da região serão os mais afetados: estimativas indicam que as taxas de pobreza poderão superar a marca de 36% até o final de 2023 (comparado a 30% em 2018 e 34% em 2020), elevando as tensões sociais.
Para 2023, podemos esperar a manutenção dos altos custos de energia e alimentos, o que intensificará ainda mais as pressões inflacionárias que os bancos centrais lutarão para controlar.
IMPLICAÇÕES PARA FABRICANTES DE PRODUTOS DE CIÊNCIAS DA VIDA
1. Os custos de fabricação seguirão em alta. Os esforços serão direcionados para a utilização eficiente de recursos na engenharia de produtos, reduzindo o uso de matérias-primas e componentes.
2. Os custos de distribuição seguirão em alta. A alta nos preços de energia se traduz na manutenção dos custos de distribuição em patamares elevados. Os fabricantes se empenharão em otimizar a logística e redefinir seus canais de distribuição para aumentar a eficiência de suas cadeias de distribuição.
3. Margens comprimidas. Parte do aumento inflacionário será repassada aos consumidores, mas os fabricantes precisam ser mais criativos em suas estratégias de fabricação e distribuição para gerar economias operacionais e, assim, aumentar seus lucros.
4. Necessidade cada vez maior de uma responsabilidade social corporativa duradoura. A marginalização crescente dos grupos vulneráveis aumentará a necessidade de uma assistência médica de qualidade, principalmente no setor público. Governos de toda a região serão cada vez mais receptivos à criação de parcerias público-privadas (PPP) para satisfazer o aumento da demanda.
A inflação e o risco de recessãoProjeções da inflação em mercados selecionados para 2023
Fonte: The Economist |
Após três anos de mudanças bruscas em nossos estilos de vidas, temos cada vez mais a sensação de estarmos em uma “permacrise” – expressão que designa um período prolongado de instabilidade e insegurança –, o que faz com que empresas e consumidores fiquem se perguntando o que acontecerá em seguida.
A abundância de dinheiro, auxílios e empréstimos a juros baixos ajudou a estimular uma economia já aquecida. As interrupções nas cadeias de suprimentos agravaram ainda mais o problema, causando uma escassez de produtos e o aumento contínuo dos preços. Embora as cadeias de suprimentos estejam gradualmente retornando à normalidade, os elevados preços dos alimentos e da energia manterão a inflação no centro das atenções em 2023. Enquanto a Ucrânia luta contra a invasão pela Rússia, o resto do mundo luta contra a inflação e a estagnação econômica.
A expectativa é que inflação fique acima de 5% na maioria dos mercados globais. A dinâmica inflacionária na China ainda é incerta, já que o país anunciou recentemente o fim de sua política de “Covid Zero” e vem buscando reestabelecer suas relações econômicas com o mundo.
Historicamente, os Estados Unidos entraram em recessão todas as vezes em que a inflação no país chegou a 5%, com consequências econômicas negativas para toda a região da América Latina. As chances de os EUA enfrentarem uma recessão em 2023 são superiores a 70% (Fonte: Citibank, dezembro de 2022), mas o mais provável é que ela não dure mais de um ano.
IMPLICAÇÕES PARA FABRICANTES DE PRODUTOS DE CIÊNCIAS DA VIDA
1. O nearshoring (prática que consiste em transferir certas operações da empresa para países vizinhos com o objetivo de reduzir custos e melhorar a eficiência e a qualidade) pode ser efetivamente implementado como estratégia de longo prazo. Ao mesmo tempo que os Estados Unidos podem recorrer a essa abordagem para reduzir sua dependência de fornecedores chineses e, com isso, fortalecer sua cadeia de suprimentos, o nearshoring também pode ajudar a combater a inflação em períodos de altos custos de energia e se tornar uma estratégia de longo prazo para os fabricantes. Devido à sua proximidade com o mercado norte-americano, o México é o país que mais se beneficiaria da prática de nearshoring na América Latina, com ganhos estimados em US$ 35 bilhões, seguido do Brasil (US$ 7,8 bi), Argentina (US$ 3,9 bi) e Colômbia (US$ 2,6 bi). Fonte: Banco Interamericano de Desenvolvimento.
2. As vendas online conquistarão uma fatia cada vez maior do mercado. Se em 2019 as vendas na internet representaram 10% de todas as vendas, em 2022 esse percentual saltou para 14%. Como os produtos das ciências da vida são altamente regulamentados, os fabricantes do setor ficam receosos em investir valores significativos nesse canal. As mudanças regulatórias (crescimento das prescrições pela internet), o aumento das compras online (impulsionadas pela pandemia) e as pressões inflacionárias formam uma combinação perfeita de fatores para alavancar as vendas na internet no campo das ciências da vida, comprimindo a cadeia de distribuição, aumentando as margens dos fabricantes e possivelmente reduzindo a pressão nos preços ao consumidor.
3. O turismo médico vem se recuperando. Os hospitais e sistemas de saúde da região da América Latina mostraram recuperação em 2022, retornando aos níveis operacionais observados antes da pandemia. Com a alta da inflação nos Estados Unidos e o aumento geral das despesas médicas, a expectativa é que cresça ainda mais o turismo médico na América Latina. O México, a América Central e a Colômbia serão os mais beneficiados por essa tendência, devido à sua proximidade geográfica e cultural e ao fato de serem centros históricos de especialização médica. Houve uma clara evolução nos tipos de serviços de turismo médico oferecidos no México: em 2000, eles consistiam predominantemente em cirurgias eletivas (como cirurgias plásticas e fertilizações in vitro), mas hoje abrangem também procedimentos mais complexos (incluindo cirurgias bariátricas e cardiovasculares).
Outros fatores em jogo
É provável que surjam novas tendências no setor de saúde latino-americano, impulsionadas pela busca por ganhos de eficiência operacional e estratégias de liderança inovadora. Embora sejam relevantes, essas tendências provavelmente continuarão a atuar de forma isolada e não terão impactos significativos em nível macro.
Ganhos de eficiência operacional (selecionar exemplos)
- Aumento das cirurgias ambulatoriais/de curta duração
- Redução das internações hospitalares
- Crescimento gradual da telessaúde
- Interoperabilidade
- Assistência médica domiciliar
Liderança inovadora (selecionar exemplos)
- Sistemas de cirurgia robótica
- Adoção das melhores práticas internacionais
- Avaliação da viabilidade real do metaverso – funcionalidade e implementação limitadas
Por fim, as autoridades governamentais continuarão a ter uma postura reacionária em relação aos sistemas de saúde, já que ainda os consideram um custo e não um investimento na produtividade econômica e bem-estar da população ativa. Enquanto prevalecer essa situação, o que veremos serão apenas mudanças incrementais e limitadas, impulsionadas por iniciativas individuais, e não mudanças verdadeiramente transformadoras que levem devidamente em conta os impactos de longo prazo das políticas públicas de saúde.
Próximas etapas
A GHI seguirá monitorando as tendências mencionadas acima ao longo do ano e seus impactos no mercado de equipamentos médicos e fabricantes do setor de saúde. Se quiser discutir essas tendências mais a fundo ou saber como elas afetarão os negócios e operações da sua empresa, entre em contato com a GHI para obter mais informações.