Uma análise aprofundada sobre o turismo de saúde na América Latina

Por Guillaume Corpart

Com a alta nos preços dos tratamentos médicos nos Estados Unidos dando sinais de que não arrefecerá tão cedo, o turismo de saúde em países da América Latina mantém sua tendência de alta. Embora esteja longe de ser uma novidade, o turismo de saúde registrou crescimento contínuo ao longo das últimas décadas, com o único período de declínio correspondendo ao período da pandemia de Covid-19.

Número anual de turistas de saúde (no mundo inteiro): 14 milhões

Gastos mundiais com turismo de saúde (2021): US$ 55 a US$ 75 bilhões


Turismo de saúde no México

No México, como seria de esperar, a maior parte dos turistas de saúde é proveniente dos Estados Unidos. Algumas estimativas põem o número total de turistas de saúde no país entre 1,4 milhão e 3 milhões anuais, dos quais 40% a 60% são oriundos do vizinho do Norte.

Antes da pandemia, o número de norte-americanos que buscavam tratamentos de saúde no México chegava, em média, a 1,2 milhão por ano. Agora esse tipo de turismo está crescendo de novo e deve voltar em breve aos patamares registrados antes da pandemia. Por conseguinte, o turismo de saúde tornou-se um fator de grande importância para o setor de saúde mexicano.

  • Faturamento do turismo de saúde no México em 2006: US$ 1,5 bilhão
  • Faturamento do turismo de saúde no México em 2016: US$ 4,8 bilhões
  • Faturamento do turismo de saúde no México em 2021 (estimativa): US$ 6,75 bilhões

Grandes quantias economizadas pelos turistas

Evidentemente, não é à toa que tantos estadunidenses atravessam a fronteira em busca de tratamentos médicos: o que os atrai são os custos. Análises de custo mostram que, em média, os norte-americanos desembolsam entre 40% e 60% a menos com procedimentos médicos comuns no México do que se os realizassem nos Estados Unidos. Algumas fontes calculam que a economia para os americanos é ainda maior.

Os tratamentos que mais atraem os norte-americanos no México são os estéticos ou odontológicos, mas não são os únicos. As intervenções ortopédicas – envolvendo joelhos ou quadris, por exemplo, – também figuram no topo da lista, o mesmo acontecendo com algo mais trivial: a obtenção de medicamentos de venda controlada por um preço mais razoável.

  • Economia com cirurgia bariátrica no México (em comparação com os EUA): 80%
  • Economia com cirurgia estética no México (em comparação com os EUA): 75%
  • Economia com procedimentos odontológicos no México (em comparação com os EUA): 70%

A proximidade geográfica é outro motivo que torna o México um destino popular para os turistas de saúde norte-americanos. Com a sensível melhora observada ao longo dos anos na qualidade dos profissionais, instalações e procedimentos médicos no México, é compreensível o aumento do interesse de norte-americanos preocupados com seus custos de saúde.

Por fim, há outros fatores além dos tratamentos médicos que atraem viajantes dos Estados Unidos. Pacientes que se submetem a procedimentos de rápida recuperação, por exemplo, podem aproveitar várias opções de turismo de lazer na região, como explorar a cultura local, desfrutar de restaurantes de alta gastronomia, relaxar na praia e muito mais.


 

 

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Turismo de saúde no Brasil

Outro mercado latino-americano com taxas elevadas de turismo de saúde é o Brasil. O país é o segundo que mais realiza procedimentos estéticos no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. De todos os procedimentos estéticos realizados no Brasil, quase 7% envolvem pacientes internacionais.

Se no México a maioria dos turistas de saúde vem dos Estados Unidos, no caso do Brasil, a parcela mais significativa do turismo médico é proveniente dos vizinhos sul-americanos. Estimativas indicam que o país recebeu cerca de 250 mil pacientes de outros países em 2019. As cirurgias estéticas, os tratamentos odontológicos e a cirurgia bariátrica foram os procedimentos mais comuns.

Compreensivelmente, como ocorreu no México, o turismo de saúde sofreu uma retração no Brasil durante a pandemia. Mas já se observa um interesse renovado, e os números dos turistas de saúde voltaram a crescer.

O apelo do Brasil

Preços mais baixos para procedimentos comuns são sempre um fator determinante para as pessoas que buscam tratamentos no exterior. No caso do Brasil, porém, é possível que o crescimento do mercado de turismo médico seja impulsionado também por outras razões: altos índices de qualidade e inovação.

Em se tratando de cirurgias estéticas, a reputação de excelência do Brasil é quase inigualável. E os pacientes também têm à disposição no país alguns procedimentos e técnicas dificilmente encontrados em outros lugares, em particular nas áreas de realização sexual, reprodução assistida e saúde da mulher. Além dos preços mais baixos, esses são os fatores que impulsionam o crescimento do setor de turismo de saúde no Brasil.

Em termos mais abrangentes, o turismo como um todo vem crescendo no Brasil. Projeções recentes indicam que os turistas gastaram US$ 6,9 bilhões no país em 2023, superando o recorde de 2014, quando o Brasil sediou a Copa do Mundo. O turismo de saúde certamente é um fator que contribui para esses números crescentes. Além disso, o Brasil oferece uma ampla variedade de opções de turismo de lazer a viajantes que escolhem o país para fazer tratamentos médicos, de restaurantes sofisticados e eventos esportivos a praias mundialmente famosas.

  • Volume anual de turistas de saúde no Brasil (2019):000
  • Ranking do mercado brasileiro de turismo de saúde: 21º de 46 destinos
  • Ranking do Brasil em termos da qualidade de instalações e serviços de saúde: 21º de 46 destinos

Como reagir ao turismo de saúde na América Latina

Não há dúvida de que o turismo de saúde é um negócio que movimenta quantias vultosas no México e no Brasil, mas o mesmo acontece em outros países latino-americanos. Se a sua empresa é uma fornecedora de equipamentos médicos ou de fármacos nesses mercados, as oportunidades são inúmeras, pois as projeções para o turismo de saúde são extremamente promissoras.

Diversos fatores impulsionam o crescimento do turismo de saúde no México, no Brasil e em outros destinos. Em primeiro lugar, os custos de tratamentos e procedimentos nos Estados Unidos e outros países continuam em alta, e os turistas de saúde estão em busca de oportunidades para economizar. Além disso, a qualidade dos procedimentos médicos na América Latina vem apresentando melhoras contínuas, tornando esses destinos mais atraentes. E, à medida que a pandemia de Covid-19 e as dificuldades que ela causou entre 2020 e 2021 vão ficando para trás, as pessoas também estão se sentindo cada vez mais seguras para viajar.

Somando todos esses fatores, a certeza é que o turismo de saúde só tende a crescer nos próximos anos. Para os fornecedores, sobretudo nas áreas de procedimentos estéticos, bariátricos, odontológicos e ortopédicos e no segmento farmacêutico, há grandes oportunidades a serem exploradas no mercado de turismo de saúde em 2024 e nos anos seguintes.

Dito isso, também é recomendável ter cautela ao cogitar a possibilidade de viajar para outro país em busca de certos tratamentos e especialidades médicas. Alguns avanços médicos, como o medicamento para perda de peso Ozempic, podem levar a uma redução no número de cirurgias bariátricas ou procedimentos relacionados à obesidade no mundo inteiro nos próximos anos. Segundo algumas estimativas, o amplo uso do Ozempic e de outras medicações semelhantes poderia praticamente erradicar a obesidade dentro de uma década.


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