Os fatores por trás do triunfo das importações médicas asiáticas na América Latina: análise regional
Por Guillaume Corpart
Além de ter impactado profundamente os mercados mundiais e regionais de saúde, a pandemia de Covid-19 mudou a forma como os importadores latino-americanos de equipamentos médicos adquirem seus produtos (leia a Parte 1 desta análise aqui). Para entender esse movimento, analisaremos as mudanças nas tendências de importação em vários países da América Latina.
Análise regional
Brasil
Entre os mercados hospitalares da América Latina, o Brasil é o maior tanto em número de hospitais como em número de pacientes. No total, são mais de 6,5 mil hospitais que atendem mais de 215 milhões de pessoas.
Valor das importações:
- Antes da pandemia, os produtos asiáticos representavam 18% do valor total das importações brasileiras de produtos médicos. Em 2023, esse percentual aumentou para 22%.
- Em contrapartida, a participação dos produtos da Europa no valor das importações caiu de 51% para 48% no mesmo período, enquanto os provenientes dos EUA sofreram uma ligeira queda, passando de 20% para 19%.
Volume das importações:
- Antes da pandemia, os produtos asiáticos representavam 57% do volume total das importações brasileiras de produtos médicos. Em 2023, esse percentual aumentou para 72%.
- Quem mais se beneficiou dessa tendência foi a China, cuja participação nas importações passou de 36% em 2018 para 51% em 2023. O resto da Ásia permaneceu estável.
- Por outro lado, a participação dos produtos dos Estados Unidos no volume de importação caiu de 13% para 4% no mesmo período. Os produtos importados da Europa e de outros países latino-americanos também registraram queda no mesmo período, mas não tão acentuada como a dos Estados Unidos.
Principais conclusões
A China vem ampliando sua participação na venda de produtos médicos para o Brasil em detrimento de fabricantes dos Estados Unidos, da Europa e de outros países latino-americanos. O aumento acentuado do volume de importações da China, aliado a um modesto crescimento no valor das importações, parece indicar que a China vem introduzindo mais bens a preços mais baixos.
México
O México é o segundo maior mercado hospitalar da América Latina, com um total de 3,5 mil hospitais que atendem mais de 125 milhões de pessoas. A proximidade com os Estados Unidos e seu sólido parque industrial fazem do México um parceiro comercial natural do vizinho norte-americano, ainda mais considerando o atual contexto de tensões entre EUA e China e da tendência de regionalização das cadeias de suprimentos (nearshoring).
Valor das importações:
- Antes da pandemia, os produtos asiáticos representavam 9% do valor total das importações mexicanas de produtos médicos. Em 2023, esse percentual subiu para 11%.
- Os produtos dos Estados Unidos representavam 44% do valor total das importações antes da pandemia de Covid, caindo para 2023 em 35%. Já a participação dos produtos da Europa no valor das importações passou de 25% para 30% no mesmo período.
Volume das importações:
- Antes da pandemia, os produtos asiáticos representavam 15% do volume total das importações mexicanas de produtos médicos. Em 2023, esse percentual subiu para 21%.
- Quem mais se beneficiou dessa tendência foi a China, cuja participação nas importações foi de 13% em 2018 para 18% em 2023, enquanto o resto da Ásia mostrou relativa estabilidade.
- Por outro lado, a participação dos produtos dos EUA no volume de importação caiu de 56% para 46% no mesmo período. Em termos proporcionais, os produtos provenientes da Europa e de outros países latino-americanos permaneceram relativamente estáveis.
Principais conclusões
Fatores como relações históricas, acordos comerciais e proximidade geográfica, além de uma base industrial altamente integrada, explicam por que o México e os Estados Unidos são parceiros comerciais naturais. Isso explica também porque a influência da China no México é menor do que nos demais países da América Latina. Dito isto, os Estados Unidos vêm perdendo lentamente o protagonismo no comércio de equipamentos médicos. Do lado do valor, os produtos norte-americanos estão sendo substituídos pelos provenientes da Europa, enquanto os produtos chineses têm triunfado no lado do volume da equação.
Colômbia
A Colômbia ainda é um grande e importantíssimo mercado hospitalar latino-americano. No total, o país conta com mais de 2,5 mil hospitais que atendem mais de 50 milhões de pessoas.
Valor das importações:
- Antes da pandemia, os produtos asiáticos representavam 12% do valor total das importações colombianas de produtos médicos. Em 2023, esse percentual aumentou para 13%. No mesmo período, as importações de outros países latino-americanos passaram de 16% para 18%.
- Em contrapartida, a participação dos produtos da Europa no valor das importações caiu de 45% para 41% no mesmo período, enquanto o percentual de produtos norte-americanos entre as importações manteve-se inalterado em 21%.
Volume das importações:
- Antes da pandemia, os produtos asiáticos representavam 54% do volume total das importações colombianas de produtos médicos. Em 2023, esse percentual subiu para 60%.
- Quem mais se beneficiou dessa tendência foi a China, cuja participação nas importações passou de 45% em 2018 para 57% em 2023, enquanto o resto da Ásia caiu de 9% para 3%.
- Por outro lado, a participação dos produtos dos EUA no volume de importação caiu de 22% para 8% no mesmo período. O volume de produtos médicos importados da Europa manteve-se relativamente estável, enquanto o volume de produtos provenientes de outros países latino-americanos passou de 12% para 20%.
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Principais conclusões
A China vem ampliando sua participação no volume de produtos médicos vendidos para a Colômbia, com a consequente queda no volume de produtos importados dos Estados Unidos. Por outro lado, a participação dos produtos médicos norte-americanos no valor das importações mostra estabilidade. A inovação e a tecnologia presentes nos produtos dos EUA os tornam mais resilientes nas vendas, ainda que sejam vendidos em volumes menores.
Argentina
A Argentina tem mais de 2,3 mil hospitais que atendem mais de 45 milhões de pessoas.
Valor das importações:
- Antes da pandemia, os produtos asiáticos representavam 9% do valor total das importações argentinas de produtos médicos. Em 2023, esse percentual alcançou 15%.
- Já a participação dos produtos norte-americanos no valor das importações caiu de 20% para 15%, enquanto a dos europeus passou de 51% para 49% no mesmo período.
Volume das importações:
- Antes da pandemia, os produtos asiáticos representavam 50% do volume total das importações colombianas de produtos médicos. Em 2023, esse percentual subiu para 58%.
- Diferentemente de outros mercados latino-americanos, quem mais se beneficiou dessa tendência não foi a China, mas sim outros países asiáticos, cuja participação nas importações passou de 8% em 2018 para 15% em 2023. Os produtos importados da China permaneceram relativamente estáveis.
- Em contrapartida, a participação dos produtos europeus no volume de importação caiu de 29% para 19% no mesmo período, enquanto os dos Estados Unidos e de outros países continuaram a registrar um percentual semelhante ao observado antes da pandemia.
Principais conclusões
Outros países asiáticos além da China vêm ampliando sua participação na venda de produtos médicos para a Argentina em detrimento de fabricantes europeus. Os produtos importados de outras regiões registraram uma penetração semelhante nos últimos cinco anos. As incertezas econômicas que pairam sobre a Argentina fazem do país um ambiente desafiador para os negócios, o que possivelmente distorce as tendências regionais de penetração e origem dos produtos.
Chile
Por último, o Chile é um mercado hospitalar relativamente pequeno, com um total de 402 instituições. Apesar disso, o país supera várias outras geografias da América Latina devido ao grande tamanho de seus hospitais, além do alto grau de sofisticação que apresentam.
Valor das importações:
- Antes da pandemia, os produtos asiáticos representavam 12% do valor total das importações chilenas de produtos médicos. Em 2023, esse percentual subiu para 18%.
- Em contrapartida, a participação dos produtos da Europa no valor das importações caiu de 39% para 37%, enquanto a dos norte-americanos passou de 20% para 18% no mesmo período.
Volume das importações:
- Antes da pandemia, os produtos asiáticos representavam 63% do volume total das importações chilenas de produtos médicos. Em 2023, esse percentual alcançou 71%.
- Quem mais se beneficiou dessa tendência foi a China, cuja participação nas importações passou de 46% em 2018 para 62% em 2023, enquanto o resto da Ásia caiu de 17% para 9% no mesmo período.
- Por outro lado, a participação dos produtos dos EUA no volume de importação caiu de 13% para 6% no mesmo período, enquanto a dos europeus passou de 10% para 6% no mesmo período.
Principais conclusões
A China vem ampliando sua participação na venda de produtos médicos para o Chile em detrimento de fabricantes dos Estados Unidos e da Europa. O aumento acentuado do volume de importações da China, aliado a um modesto crescimento no valor das importações, parece indicar que a China vem introduzindo mais bens a preços mais baixos.
Para mais informações
As categorias de produtos usadas em todas essas análises regionais (produtos farmacêuticos, consumíveis, equipamentos e dispositivos) podem variar. Entre em contato com a GHI para obter uma análise detalhada da sua categoria de produto e conhecer o tamanho do mercado e as tendências de participação de mercado por produto.