Quatro fatores importantes que moldarão o setor de saúde em 2024
Por Guillaume Corpart
Já analisamos as possíveis mudanças que podem transformar o panorama mundial da saúde em 2024. Graças a essa análise, agora temos uma compreensão mais sólida das condições econômicas na América Latina. Neste artigo, examinaremos os fatores que continuarão a impulsionar mudanças no setor de saúde este ano.
1. Inteligência artificial
Desde o lançamento público do ChatGPT em meados de 2023, a inteligência artificial (IA) tem dominado as manchetes. A realidade, porém, é que o impacto da IA até o momento tem ficado muito aquém do esperado, já que a maioria das empresas ainda não sabe onde e como essas ferramentas serão efetivamente usadas em seu setor. Por outro lado, tudo indica que o setor de saúde será um dos grandes impulsionadores da inteligência artificial como um campo na vanguarda de mudanças disruptivas.
No que se refere à inovação, as pesquisas que utilizam IA têm o potencial de acelerar descobertas e testes, aumentando a rapidez com que os produtos chegam ao mercado. Laboratórios farmacêuticos, fabricantes de dispositivos médicos e empresas de diagnóstico são alguns dos maiores beneficiários da IA baseada na inovação.
Com o fim da vigência das patentes de seus medicamentos mais lucrativos, os laboratórios farmacêuticos podem se beneficiar de uma revitalização de seus projetos de desenvolvimento de fármacos. Os fabricantes de dispositivos médicos – que muitas vezes se associam mais a empresas tecnológicas do que a laboratórios farmacêuticos tradicionais – podem passar por repetidos ciclos de inovação e concepção de forma mais rápida para gerar mais valor a seus grupos de interesse. As empresas de diagnóstico, incluindo diagnóstico por imagem, podem incorporar ferramentas de IA a seus sistemas para produzir análises de resultados de exames com muito mais rapidez e precisão.
As contribuições mais significativas da IA para o setor de saúde dirão respeito à rapidez e ao acesso. Em termos de diagnóstico e tratamento, o tempo é um fator crítico para tratar problemas de saúde. A inteligência artificial tem o potencial de acelerar o ritmo de funcionamento do setor e aumentar o bem-estar de milhões de pessoas no mundo inteiro.
Ao mesmo tempo, a IA também pode ampliar o acesso à assistência médica, promovendo uma maior equidade nos cuidados de saúde. Diagnósticos mais rápidos significam maior uso de recursos, o que pode levar à redução dos custos operacionais. A tendência é que os provedores privados sejam os primeiros a adotar a IA em seus fluxos de trabalho para torná-los mais eficientes. Já os provedores do setor público poderão aumentar drasticamente o acesso aos cuidados de saúde, sobretudo nos mercados emergentes, onde cerca de 70% da população usa o sistema público. Da inovação ao desfecho, passando pelo diagnóstico e tratamento, a IA pode encurtar a jornada do paciente e gerar melhorias tangíveis na eficiência e eficácia dos sistemas de saúde em todo o mundo.
A inteligência artificial generativa, uma subespecialidade do campo de IA voltada para a criação de conteúdos com resultados semelhantes aos produzidos pelos humanos, terá um impacto adicional no setor de saúde. A IA generativa contribuirá significativamente para o desenvolvimento de interfaces, incluindo softwares de front-office (CRM, marketing, divulgação), softwares de back-office (prontuários eletrônicos, interoperabilidade de pacientes) e plataformas de agendamento de consultas de pacientes, definição de lembretes, etc. O setor de saúde se tornará cada vez mais dinâmico nos próximos anos, o que levará ao surgimento de novos e promissores produtos e soluções em um superciclo de investimento em ferramentas de IA baseadas na inovação.
Evidentemente, a IA também traz consigo algumas possíveis desvantagens. Como a IA exige um volume gigantesco de entrada de dados, os atores do setor de saúde precisarão de grandes quantidades de dados reais para executar seus modelos. O combustível desses modelos serão informações não sensíveis de pacientes.
O desenvolvimento e a implementação da IA também trazem outros riscos. Dados tendenciosos ou imprecisos podem levar a resultados prejudiciais ou potencialmente fatais. Em termos menos extremos, a IA poderia também reforçar preconceitos de gênero, raciais e de outros tipos. A produção de materiais incorretos e inverdades pode prejudicar pacientes, cuidadores ou outros atores da saúde, reduzir a confiança na própria IA e limitar ainda mais possíveis desenvolvimentos.
Das empresas tecnológicas que desenvolvem soluções de IA às empresas que integram IA a seus produtos médicos, abrangendo ainda cuidadores, provedores, pagadores e, por fim, pacientes, a IA tem o potencial de mudar substancialmente o funcionamento do setor nos próximos anos.
2. Demografia
Poucas tendências são tão irrefreáveis quanto a demografia. Isso vale para todos os setores econômicos, mas seu impacto é ainda mais acentuado na saúde. O aumento da proporção dos gastos familiares com serviços de saúde tem levado a uma sobrecarga financeira em muitos países. Para reverter essa tendência, é fundamental melhorar os desfechos de saúde e ao mesmo tempo reduzir os custos da assistência médica. No setor de saúde, isso envolve a transição do método convencional de gestão dos sintomas para outro que aborde a fundo as causas fundamentais, bem como uma mudança de foco do tratamento da doença para medidas preventivas.
Obesidade. A epidemia de obesidade e o envelhecimento populacional são dois dos fatores que mais sobrecarregam o sistema de saúde. Na América Latina, a prevalência da obesidade em crianças e adultos segue crescendo muito acima da média mundial.
O impacto da obesidade nos sistemas de saúde está muito bem documentado. A doença está associada a uma ampla variedade de problemas graves de saúde, como hipertensão, doenças cardíacas, diabetes e colesterol alto, além de ser responsável por cerca de 2,8 milhões de mortes por ano na região. “Nos últimos 50 anos, os índices de sobrepeso e obesidade triplicaram, afetando atualmente 62,5% da população da região”, observou o Dr. Jarbas Barbosa, diretor da OPAS.
Envelhecimento. Na América Latina, o percentual da população com 65 anos ou mais cresceu de 7,0% em 2010 para 9,4% em 2023, devendo ultrapassar 10,0% em 2026. Esse grupo etário acima de 65 anos ganha mais de dois milhões de pessoas por ano e deve chegar à marca de 70 milhões em 2026. Em média, os custos de saúde associados a um indivíduo com mais de 65 anos são três vezes superiores aos gastos com pessoas abaixo dessa faixa etária. Esse dado evidencia como o envelhecimento pode ser um fator demográfico crítico.
Ajustando-se a mudanças demográficas. Os sistemas públicos de saúde atendem quase 70% da população latino-americana, representando a oportunidade mais significativa para aumentar a eficiência da demanda de serviços. No entanto, a expectativa é que as autoridades governamentais continuem a ter uma postura reacionária em relação aos sistemas de saúde, já que ainda os consideram um custo e não um investimento na produtividade econômica e
bem-estar da população ativa. Enquanto prevalecer essa situação, veremos apenas mudanças incrementais e limitadas, impulsionadas por iniciativas individuais. O que precisamos é de mudanças transformadoras com uma visão de saúde voltada para o longo prazo.
Ao mesmo tempo, prevemos um aumento na demanda por soluções do setor privado, onde ocorrerá a maioria das inovações baseadas em serviços. Embora as necessidades internas respondam pela maior parte dessa demanda, alguns países como México, Costa Rica e Panamá estão bem preparados para atender à demanda internacional, especialmente dos Estados Unidos, onde os custos de saúde continuam a subir vertiginosamente ao mesmo tempo que os desfechos apresentam apenas melhorias mínimas.
Ganhos de eficiência operacional
- Aumento das cirurgias ambulatoriais e de curta permanência
- Redução das internações hospitalares
- Interoperabilidade
- Assistência médica domiciliar
Liderança inovadora
- Sistemas de cirurgia robótica
- Adoção das melhores práticas internacionais
3. Tensões EUA-China
As tensões entre as duas maiores potências econômicas mundiais (Estados Unidos e China) continuam a se intensificar, sendo a tecnologia e, mais recentemente, a IA os dois principais fatores em jogo. Essa situação levou os Estados Unidos a trazer uma quantidade enorme de empregos de volta para o país e gerou uma onda de oportunidades de regionalização das cadeias de suprimentos (o chamado “nearshoring”) em toda a América Latina.
A inquietação com as políticas e regulamentações da China aplicáveis a empresas estrangeiras é uma das principais preocupações das empresas internacionais presentes no país. Com as tensões existentes minando a confiança das empresas norte-americanas que operam na China, o movimento de regionalização deve continuar.
Quem mais tem se beneficiado dessa tendência é o México, cujas exportações para os Estados Unidos têm crescido de forma contínua desde o início de 2022. A Costa Rica é outro país beneficiado pela regionalização das cadeias de suprimentos, graças à sua forte base industrial de exportação e cultura favorável aos negócios. Além de serem polos de atração de investimentos estrangeiros direitos, o México e a Costa Rica têm uma experiência consolidada no setor de saúde. Por outro lado, a estratégia de fabricação na China parece continuar a atrair empresas interessadas em ter acesso ao mercado chinês (mais do que usar o país como base de produção global).
4. Conflitos armados e agitação social
Por fim, em um contexto da continuidade do conflito na Ucrânia, do início da guerra de Israel em outubro de 2023 e de outros conflitos armados em todo o mundo, quase 40% dos executivos de empresas consideram as tensões geopolíticas uma de suas maiores preocupações em 2024. Essas preocupações são ainda mais relevantes do que questões econômicas comuns, como taxas de juros, riscos de recessão e inflação.
Embora os conflitos armados provoquem terríveis crises humanitárias e sanitárias em suas regiões, a história demonstra que eles costumam ter apenas um impacto limitado no setor de saúde global. A política nacional e a economia doméstica têm uma influência mais direta no setor médico e na economia da saúde.
Uma preocupação mais relevante na América Latina é a ascensão do autoritarismo. A deterioração contínua e sistemática da democracia em toda a região na última década vem elevando o potencial de perturbações sociais no futuro. “Em vários países, a democracia está em estado crítico, enquanto em outros ela já nem existe mais”, informa a Latinobarómetro em seu relatório anual de 2023.
Embora a democracia continue a ser a forma preferida de governo na América Latina, a região tem mostrado um entusiasmo cada vez maior com governos autoritários e, talvez mais preocupante, apatia em relação a seus líderes políticos. É alarmante observar a deterioração no apoio à democracia em países como Chile, México e Costa Rica. A tendência é que essas mudanças substanciais nos ideais políticos intensifiquem as tensões e perturbações sociais em 2024 e 2025.
Próximos passos
Entre em contato com a GHI para saber sobre mais tendências emergentes na área de saúde e como sua equipe de vendas e marketing pode se planejar com antecedência e identificar oportunidades no setor de dispositivos e equipamentos médicos da América Latina.