O papel da América Latina no desenvolvimento e na distribuição global de vacinas

Por Mariana Romero Roy

Na América Latina, a história recente da vacina toma dois caminhos distintos. De um lado, temos uma região que, em 2021, teve dificuldades para implantar a vacinação contra a Covid-19 e, agora, luta para melhorar as taxas de vacinação infantil. De outro, temos países avançando no desenvolvimento de vacinas e transformando a região em um grande player global na sua produção.

Como isso aconteceu? Vamos examinar melhor a história da vacina na região, começando pela pandemia de Covid-19.

Vacina contra a Covid-19 na América Latina: um retrospecto

A pandemia de Covid causou transtornos em todo o mundo, mas o impacto na América Latina foi especialmente drástico. A região respondeu por 25% dos casos mundiais de Covid-19 e por 27% das mortes causadas pela doença.

Olhando para trás, parece que vários fatores contribuíram para o impacto desproporcional que o coronavírus teve na região, mas um deles indiscutivelmente foi a demora na distribuição, adoção e aceitação da vacina. São vários os motivos para os atrasos na vacinação, desde a falta de vacina em algumas regiões até o ceticismo quanto à sua eficácia em outras. O ponto em comum é que a oferta da vacina foi mais lenta e desigual na América Latina do que em outras partes do mundo.

Um relatório de outubro de 2021, por exemplo, constatou que apenas 39% da população latino-americana havia sido imunizada até aquela data. Em alguns países, como Chile e Uruguai, as taxas de vacinação superaram 70%, enquanto em outros, como Guatemala, Venezuela e Honduras, os índices não chegaram a 25%. Embora isso se deva em grande medida à desconfiança em relação à vacina, muitos países dependiam totalmente de doações para imunizar a população, o que criou problemas de oferta e igualdade.

Em 2023, a América Latina havia conseguido se recuperar, com alguns países superando a marca de 90% da população vacinada. Outros países, no entanto, ainda não atingiram a meta de vacinação da Organização Mundial da Saúde, estabelecida em 70%.


Uma tendência preocupante: taxas de vacinação infantil na América Latina

Infelizmente, a pandemia de Covid-19 não foi o único desafio vacinal enfrentado pela América Latina nos últimos tempos. Uma outra tendência preocupante, de acordo com o UNICEF, é a queda no índice de vacinação infantil na região. Entre 2012 e 2021, as taxas de vacinação diminuíram na América Latina, que antes apresentava as mais altas taxas de imunização do mundo. A tabela abaixo mostra mais detalhes.

Vacinação infantil na América Latina

Uma história de sucesso: a aumento da produção de vacinas na região

As dificuldades na vacinação contra a Covid-19 e as taxas de imunização infantil na América Latina indicam claramente que há espaço para melhorar, e que há luz no fim do túnel. Se tem uma lição que a região aprendeu durante a pandemia é que não é possível depender totalmente da importação de vacinas.

Durante a pandemia, apenas 15% das vacinas eram produzidas na América Latina. Desde então, governos locais e órgãos regionais com boas bases fabris vêm investindo na expansão da capacidade de produção e fabricando mais vacinas localmente.

Alguns desses esforços têm recebido o incentivo da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e sua Plataforma Regional de Inovação e Produção. O objetivo do programa, aprovado em setembro de 2021, é ampliar a capacidade de produção de medicamentos essenciais e tecnologias de saúde na América Latina. O Fórum para o Progresso e Desenvolvimento da América do Sul (PROSUL) também vem desenvolvendo programas semelhantes.

Esses esforços já estão começando a gerar bons frutos na região. Em julho de 2024, por exemplo, a fabricante de vacinas brasileira Bio-Manguinhos/Fiocruz passou a fazer parte da rede de fabricantes CEPI para ajudar a criar respostas mais rápidas e equitativas a ameaças de doenças futuras. Esse avanço parece se repetir em toda a região, e países como México, Colômbia e Chile, entre outros, devem crescer no mercado de vacinas nos próximos anos. A tabela abaixo mostra mais dados.

Crescimento nos mercados de vacina da América Latina por país

O futuro das vacinas na América Latina

Impulsionadas pelos esforços de governos regionais e locais, as tendências de mercado parecem indicar que a América Latina aprendeu lições valiosas com a escassez de vacinas e a desigualdade resultante da pandemia de Covid-19. Mais que isso, muitos países agora parecem estar se mobilizando para produzir suas próprias vacinas e reduzir a dependência de importações nos próximos anos.

Já foi registrado um avanço significativo e, como os números acima apontam, a previsão é de crescimento no futuro. De fato, o Centro para o Desenvolvimento Global já observou que muitos países de renda média, entre eles o Brasil, já são importantes fornecedores mundiais de vacinas. Com o contínuo aumento da produção na região, é possível que outros países sigam o mesmo caminho e virem atores relevantes do mercado global de vacinas.


Principais conclusões para empresas de saúde

Quando o assunto é vacina e dispositivos, equipamentos e suprimentos auxiliares relacionados à imunização, fica claro que o foco da América Latina, como região, é o aumento da produção para atender às necessidades locais e, quiçá, expandir a base de mercado localmente e no mundo. Fabricantes e fornecedores do setor de vacinas podem ajudar nisso concentrando seus esforços em produtos e iniciativas que auxiliam países e empresas locais a alcançar esses objetivos.


Próximos passos

Entre em contato com a GHI para saber mais sobre as tendências no setor de saúde e seu potencial impacto no mercado de vacinas da América Latina. Nossa equipe de pesquisadores pode fornecer as análises e informações valiosas de que a sua empresa precisa para tomar decisões mais estratégicas em seu setor.

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