As doenças mais letais do Brasil
Nos últimos anos, o Brasil enfrentou graves epidemias de doenças transmissíveis que mataram centenas de milhares de pessoas – como a própria pandemia de Covid-19, uma crise sanitária de ordem mundial e que impactou mais severamente os países de baixa renda, e a dengue, epidemia nacional que contabilizou mais de 6 milhões de casos e cerca de 5 mil mortes só no primeiro semestre de 2024. No entanto, mesmo diante desses cenários críticos, as doenças mais letais do país confirmam uma tendência de muitos anos: são as enfermidades não transmissíveis, como doenças cardiovasculares, do trato respiratório, cânceres e diabetes, que mais matam e invalidam brasileiros atualmente.
Claro, não podemos ignorar que estamos falando de doenças que configuram um problema mundial – de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), apenas dez enfermidades são responsáveis por mais da metade das mortes no mundo todo, sendo elas: doença cardíaca isquêmica, AVC, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), infecções do trato respiratório inferior, complicações neonatais, câncer de traqueia, brônquios e pulmão, Alzheimer e outras demências, doenças diarreicas, diabetes e doenças renais.
No entanto, não há dúvidas que as populações dos países de baixa renda sofrem mais com essas condições, seja por falta de acesso a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis, seja pela precariedade dos sistemas de saúde. Com condições geográficas e socioeconômicas amplas, complexas e muito variadas, o Brasil – maior economia da América Latina – enfrenta diversos desafios na área da saúde, seja entre as doenças transmissíveis ou não-transmissíveis. A seguir, confira alguns números e dados levantados pelo Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) que jogam luz sobre o cenário atual das doenças mais letais do país e projeções para o futuro.
As doenças mais letais no Brasil
Como mencionamos anteriormente, as enfermidades mais fatais do país seguem a tendência mundial, com as doenças não-transmissíveis prevalentes entre as 10 mais letais. Em 2021, as principais causas de morte no Brasil foram:
- Covid-19
- Doença cardíaca isquêmica
- AVC
- Infecções do trato respiratório inferior
- Diabetes
- Alzheimer
- Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)
- Violência interpessoal (morte violenta)
- Doenças renais
- Acidentes rodoviários
Com exceção da Covid-19, que assumiu o primeiro lugar mundialmente, percebemos que as doenças relacionadas a maus hábitos de vida são as que mais tiram vidas no país. Outras mortes não relacionadas a doenças – como acidentes rodoviários e mortes violentas – também são um reflexo das condições socioeconômicas do país.
Entre as doenças não transmissíveis, é importante notar que o ranking sofreu variações na comparação com 2011 – 10 anos antes. A doença cardíaca isquêmica, por exemplo, ainda é a doença não transmissível que mais mata no Brasil e no mundo, porém, a letalidade do Coronavírus, ainda em um momento em que as vacinas não estavam disponíveis, mudou este cenário em todo o planeta, matando, só no Brasil, 411 mil pessoas.
No entanto, mesmo em segundo lugar no ranking, uma posição abaixo da lista de 2011, o número de mortes por doença cardíaca isquêmica subiu 2,4% no intervalo de dez anos. Além disso, no ano seguinte, voltou para o topo do ranking: de acordo com o relatório “Carga global de doenças e fatores de risco cardiovasculares”, publicado em dezembro de 2023 no Journal of the American College of Cardiology, em 2022, o país registrou o óbito de cerca de 400 mil pessoas em decorrência de um conjunto de 18 doenças cardiovasculares.
Outro dado que chama a atenção é a incidência de mortes por Alzheimer, que subiu 7,2% entre 2011 e 2021. A incidência cada vez maior de doenças neurológicas degenerativas/demências, sem dúvida, refletem o aumento da expectativa de vida do brasileiro: entre as mulheres, saltou de 73,1 em 1990 para 77,4 em 2021, e estima-se ainda que chegará a 83,2 em 2050. Entre os homens, foi de 65,6 em 1990 para 70,2 em 2021, com projeção de chegar a 77,4 em 2050. No entanto, a neurologia ainda é um das áreas mais desafiadoras para a medicina, que deverá investir em tecnologia para trazer mais possibilidades de tratamentos para as doenças neurodegenerativas, a fim de garantir a longevidade com qualidade de vida e bem-estar.
Principais causas de morte e incapacidade no Brasil
Interessante notar que, entre as doenças que mais causam invalidez permanente no Brasil, boa parte delas também ocupa os 10 primeiros lugares do ranking das mais letais, como doença cardíaca isquêmica, AVC e diabetes. Ainda entram na lista doenças da coluna vertebral, complicações neonatais e doenças e distúrbios mentais, como ansiedade e depressão.
Vale destacar aqui, no comparativo entre 2011 e 2021 feito pelo IHME, o aumento agressivo da incidência de algumas dessas doenças, como o diabetes, que subiu 32,2% no intervalo de 10 anos, as doenças cardíacas, com um aumento de 12,5%, doenças da coluna, com 21,6%, ansiedade, com 20%, e depressão, com o recorde de crescimento: 36,2%.
Por outro lado, as mortes e complicações neonatais registraram uma queda importante: -36,2% entre 2011 e 2021. Esta é uma tendência, aliás, que vem sendo observada há mais tempo quando falamos de mortalidade infantil – a taxa de mortalidade entre crianças até 1 ano caiu de 43,2 mortes para cada mil nascidos vivos em 1990 para 10,3 em 2021; e entre crianças de 1 a 5 anos, caiu de 50,9 em 1990 para 11,9 em 2021.
Principais fatores de risco para morte e incapacidade no país
Como já observamos, os maus hábitos de vida, como sedentarismo, alimentação rica em gordura e açúcar, abuso de álcool, tabaco e outras substâncias nocivas, estão entre os vilões da saúde do brasileiro.
Prova disso é que os riscos metabólicos – muito associados ao comportamento – estão no topo da lista de principais fatores de risco para morte e incapacidade no país. Em primeiro lugar está o alto índice de massa corporal, que leva a obesidade, registrando um aumento de impressionantes 388% entre 2011 (quando ocupava a quinta posição) e 2021. Em seguida vem o alto nível de açúcar (glicose) no sangue, fator de risco primordial para diabetes tipo 2, com um aumento de 344%. Doenças do rim, colesterol alto e dieta inadequada (pobre em nutrientes essenciais e rica em alimentos processados e ultraprocessados) também figuram na lista com aumento significativo.
Por outro lado, ainda que estejam presentes entre os 10 primeiros do ranking, alguns fatores de risco registraram quedas importantes nesse intervalo de 10 anos. O tabaco, por exemplo, que antes ocupava o terceiro lugar, caiu para a quarta posição com uma queda de 107,3%; o abuso de bebidas alcóolicas caiu 256,5%; e a hipertensão apresentou uma ligeira queda de 7,5%. No entanto, o dado mais impactante é o da desnutrição, com uma queda de 855,8%, reflexo das políticas e campanhas de combate à fome – vale destacar, nesse contexto, que o Brasil saiu do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014.
Gastos e investimentos com a saúde no Brasil
Não há dúvidas de que as doenças crônicas e incapacitantes representam uma sobrecarga no sistema de saúde brasileiro, além de afetar a economia do país, tirando anos saudáveis e produtivos de milhões de pessoas. No entanto, tanto os sistemas público e privado buscam investir cada vez mais em programas de prevenção, tratamento e cuidados. Segundo levantamento da IHME, em 2021, os gastos em saúde por pessoa se deu da seguinte forma:
- Sistema privado: US$ 241,83
- Sistema público: US$ 382,60
- Particular/recursos próprios: US$ 192,78
- Assistência de desenvolvimento para a saúde (DAH): US$ 1,51
A IHME também disponibilizou a projeção de gastos de categoria para 2050:
- Sistema privado: US$ 627,19
- Sistema público: US$ 474,46
- Particular/recursos próprios: US$ 225,37
- Assistência de desenvolvimento para a saúde (DAH): US$ 1,37
Essas e outras projeções devem levar em consideração os grandes desafios que a área da saúde representará para o Brasil e o mundo em um futuro próximo: entre diversos fatores, estão o envelhecimento da população e o aumento da expectativa de vida e, consequentemente, a incidência de doenças metabólicas e cardiovasculares crônicas, cânceres e doenças neurodegenerativas; o estilo de vida sedentário e com baixa qualidade alimentar que se instalou, sobretudo, nas grandes capitais; o crescimento agressivo de distúrbios mentais, como ansiedade, depressão, pânico e Burnout; o aumento do sedentarismo e da obesidade entre crianças e adolescentes, favorecendo o aparecimento de doenças crônicas na vida adulta; e o aumento de epidemias/doenças transmissíveis, que afetam mais gravemente as populações de baixa renda e em situação de vulnerabilidade.
Entre os muitos caminhos possíveis para garantir um futuro mais saudável estão campanhas de prevenção à saúde, campanhas anti-álcool e anti-tabaco, educação da população a respeito da alimentação segura e saudável, oferta acessível de alimentos in natura e orgânicos, regulamentações e informações mais claras a respeito dos ingredientes dos alimentos industrializados, investimento em pesquisa e tratamentos para doenças neurodegenerativas e demências, e promoção de programas de atenção primária, com foco em prevenção. Seja como for, combater as doenças mais letais e incapacitantes do Brasil demanda a mobilização de diversos atores, como a área da saúde, pesquisa e desenvolvimento, entidades governamentais, instituições e indústrias e sociedade civil.
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